Recent comments

O abandono premeditado em pet shops

A crueldade da classe média alta que vê o animal como um brinquedinho de luxo e o abandona em um pet shop.

O pobrezinho fica ansioso esperando o "dono" vir buscá-lo, mas ele nunca chega!!!


Abandono premeditado


Quem nunca parou diante de uma vitrine de shopping para apreciar um cocker spaniel sendo ensaboado numa banheira ou assistir a um poodle toy estático passando pela tosa? Mas pouca gente desconfia de que o pet shop, paraíso de consumo da indústria animal, está se transformando em orfanato de cães de raça.

Ao contrário das "desovas" de filhotes em portas de clínicas, hospitais veterinários, parques e ONGs de defesa animal, quando a autoria é desconhecida, nesse novo tipo de abandono, chamado premeditado, sabe-se quem o cometeu, só não há como localizá-lo.

A cena segue quase sempre o mesmo script: o cliente chega com o bicho no colo, demonstra afeto, faz exigências, mil recomendações e promete voltar horas depois para buscá-lo. No entanto nunca mais dá as caras. Geralmente, fornece telefone e endereço falsos.

Nos últimos seis meses, dois cockers e dois poodles ficaram à espera de seus donos após banho e tosa no pet shop Morde Cão. Para tentar coibir novos casos de abandono, a loja passou a exigir RG, CPF e comprovante de residência para clientes sem cadastro. O número do telefone é checado na hora.

Motivos alegados para o abandono

Atitudes "infantis" do filhote (rói objetos pessoais, faz xixi em local indesejado)

Deficiência física do animal

Desemprego ou crise financeira do dono

Doença crônica ou seqüela de acidente

Idade avançada do bicho

Morte de quem tinha vínculo com o animal

Mudança de casa para apartamento

O animal está esperando filhotes

Problemas de comportamento (agressividade, ausência de adestramento)

Separação conjugal


Fontes: ONGs Instituto Nina Rosa de Promoção e Valorização da Vida Animal, WSPA e Ipab (Instituto de Proteção ao Animais do Brasil)

"É desesperador você acompanhar a ansiedade de um animal esperando pelo dono", confessa a veterinária Letícia Satiko, 26, que conseguiu encaminhar para a adoção os quatro cães. Um deles, o cocker Billy Coler, 1, ficou com a auxiliar de serviços gerais do próprio pet shop, Jane Laurelli, 33. "Não me conformo com nenhum tipo de abandono, humano ou animal. Os meus filhos estavam loucos por um cãozinho. Billy só trouxe alegria para a minha casa", explica.

Nem sempre casos assim têm um final feliz. No hotel Parque Canino Dog World, cinco cães abandonados, entre os quais um border collie e uma lhasa apso, estão à espera de adoção. Todos esses animais deram entrada como hóspedes, mas seus donos não pagaram as diárias nem voltaram lá para buscá-los.

Um abandono premeditado a cada 60 dias é registrado no hotel. "É um problema grave", confessa o dono, o veterinário Dan Wroblewski, 43. "Infelizmente, a adoção não é o destino de todos os bichos abandonados. Animais com problemas de saúde ou idade avançada, por exemplo, são muito rejeitados. Ninguém os quer."

Para Maurício Esteves Coca, 40, presidente do Ipab (Instituto de Proteção aos Animais do Brasil), esse tipo de ação é executado por um novo perfil de abandonador. "Gente de classe média e alta que não tem noção de posse responsável. Essas pessoas tratam o bicho como um brinquedinho de luxo", critica.

Há situações em que o cliente chega a pagar a conta do banho e da tosa antes do serviço só para se livrar do animal, como aconteceu no começo deste ano com um shih tzu abandonado no Pet Center Marginal. "Ligamos avisando que o animal já estava pronto, mas ele disse que não o queria mais, mudou de telefone e sumiu do mapa. Por sorte, conseguimos um lar para o bicho", conta Roseli Figueiredo, 45, responsável pelo setor. Mais uma vez o cão foi adotado por um funcionário do próprio banho e tosa, Givaldo Assunção, 22, que batizou o cão de Eiry, hoje com quatro anos. Dois meses atrás, um yorkshire teve destino semelhante. Dessa vez, a conta nem foi paga.

É bom lembrar que os casos de abandono premeditado não se restringem aos "salões de beleza". Há relatos de clientes que levam os animais para o veterinário examinar e não retornam. Dois meses atrás, a filhote Kika Maria, sem raça definida, foi deixada desnutrida, com pulgas e carrapatos no pet shop Amor às Lambidas.

Sem raça definida, Kika Maria, de quatro meses, foi abandonada desnutrida num hospital veterinário antes de ser adotada pela empresária Patrícia Correa, 26

Recuperada, Kika Maria esperou em vão durante um mês o retorno do dono. Enquanto isso não acontecia, ela passava os dias ao lado de Daniele Kühl Fincatti, 24, na clínica. À noite, ia para a casa da veterinária. Duas semanas atrás, Kika Maria foi finalmente adotada pela empresária Patrícia Correa, 26. "Estava no cabeleireiro quando descobri a triste história da cachorra. Voltei para casa com Kika Maria no colo", empolga-se.

Sorte quando tem alguém que se sensibiliza e acaba adotando, mas muitas clínicas e pet shops não conseguem conter a demanda de animais abandonados, segundo a ambientalista Angela Caruso, 50, presidente do Quintal de São Francisco, entidade que abriga e cuida de cães e gatos abandonados. "As próprias clínicas acabam praticando eutanásia. Não têm onde colocar tantos bichos", alerta.

Para Angela, o problema do abandono em São Paulo é crítico, reflexo de um crescimento desordenado do segmento de animais domésticos. Só para ter uma idéia, cerca de 60 cães e gatos são recolhidos das ruas da cidade diariamente pelo CCZ (Centro de Controle de Zoonoses), 80% deles deixam de ser resgatados pelos donos e são sacrificados, segundo Noemia Tucunduva Paranhos, 37, assessora da direção da repartição. O abandono de animais, diz ela, seja ele qual for, é considerado crime ambiental por maus-tratos, com pena prevista de detenção de três meses a um ano, além de multa a ser estipulada pelo juiz.

Estimativa do Ipab mostra que, de cada cem cães e gatos adquiridos em São Paulo, ao menos 50 são abandonados de diferentes formas em até 30 meses. Tanto pelos números oficiais quanto pelos da ONG ainda não se sabe ao certo o percentual de abandono premeditado, mas as próprias entidades reconhecem que ele vem crescendo.

O que levar em conta antes de adquirir um animal

- Defina qual bicho você deseja, levando em conta raça, tamanho e temperamento do animal

- Evite comprar de criadouros irresponsáveis, que vendem animais doentes. Na dúvida, opte pela adoção

- Sua casa ou apartamento precisa ter espaço suficiente para a espécie escolhida

- Certifique-se estar disposto a cuidar dele por toda vida -cães e gatos chegam a viver de dez a 20 anos-, incluindo férias e períodos de ausência

- Não se esqueça de que ele é um ser vivo e não um produto que se pode trocar, jogar fora ao apresentar "problemas" ou tornar-se "obsoleto"

- Toda a família deve estar de acordo em receber o novo integrante, inclusive a empregada

- Além de alimentação e abrigo, precisa de carinho e atenção e deve ser levado sempre ao veterinário, o que implica custos

- Assim como o dono, o bicho também necessita de exercício físico com regularidade e gosta de passear

- Ele não deve ficar sozinho em casa por longos períodos. Cães deixados soltos latem, choram e incomodam a vizinhança

- Se não deseja filhotes, a melhor solução é castrá-los; enquanto isso não ocorre, prenda o animal na época do cio

Esse tipo de problema não é exclusividade brasileira. Segundo Elizabeth Mac Gregor, representante da WSPA (sigla em inglês para Sociedade Mundial de Proteção Animal), com sede em Londres, os casos aumentam nesta época do ano em países como França, Espanha e Portugal no período das férias de verão, quando as famílias saem em viagem e deixam os animais sozinhos em parques e estradas, apesar das leis contra o abandonador.

Nos EUA, no Canadá, na Inglaterra, na Suíça e na Suécia, novos mecanismos vêm sendo adotados para tentar frear o número de bichos abandonados, como o uso externo de chapas de identificação e microchip. "Com isso, é possível localizar o dono e puni-lo diante de uma irresponsabilidade, mas ainda é muito difícil de ser praticado em países pobres", acredita Elizabeth.

No Brasil, um dos principais motivos do abandono é o desemprego e a crise econômica. Quando o orçamento aperta, o bicho de estimação também entra na lista de itens "cortáveis", compara Maurício, do Ipab.

Na clínica Interlagos, um poodle teve que passar por uma cirurgia no tórax depois de ser atropelado. O animal ficou 30 dias esperando o dono. "O cliente disse que não tinha como pagar a conta e não queria o animal de volta, como se fosse um produto descartável", lembra a veterinária Regina Adan, 40. No final do ano passado, até um chow chow, cão de uma raça cara e originária da China, foi abandonado na hora da consulta. "O dono saiu com a desculpa de ir buscar dinheiro em casa e nunca mais apareceu", conta Regina.

O abandono premeditado envolve uma sucessão de mentiras. "Não só o bicho é enganado como qualquer pessoa que possa dar suporte ao abandono", critica Nina Rosa Jacob, 60, presidente da ONG Instituto Nina Rosa de Promoção e Valorização da Vida Animal.

O "boom" da indústria pet acabou transformando o animal doméstico em um objeto de consumo, acredita Nina. "Determinadas raças se tornam grifes e viram mania, mas tempos depois ficam fora de moda. Muita gente acaba comprando o animal só por impulso, sem nenhuma reflexão. Irresponsáveis, acabam abandonando o bicho justamente em lugares criados para atender também a seus caprichos", diz Nina.

Esse paradoxo não há bicho que entenda.

Fonte: Revista da Folha, 13/Junho/2004

Fonte: Dog Times
O abandono premeditado em pet shops O abandono premeditado em pet shops Reviewed by ASA on 23:50 Rating: 5

Um comentário

  1. quem abandona animal é uma pessoa "mal amada e mal comida", e precisa de tratamento

    ResponderExcluir

Recent Posts

Fashion