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Os enormes custos ambientais da produção de carne


Uns impressionantes 80% de áreas cultiváveis da terra são usados para a criação de animais destinados à alimentação. Em um hectare de terra podem ser plantados 22.500 quilos de batatas enquanto, no mesmo hectare, apenas se consegue 185 quilos de carne bovina. O desperdício de água é também enorme. São necessários 30.000 litros de água para produzir um quilo de carne. Para o mesmo peso de trigo, são necessários apenas 150 litros de água. A criação de animais de corte, ou para alimentação, é responsável também por 90% da desflorestação de florestas tropicais. Fala-se muito na recolha de madeiras mas, na maioria, a desflorestação tem por objectivo a criação de mais áreas de pasto. Na Amazónia, por exemplo, onde isso acontece diariamente, a terra menos produtiva é rapidamente abandonada e novas e gigantescas áreas são arrasadas para dar origem a novos locais de pastagem.

Florestas em todo o mundo estão a ser queimadas com a finalidade de criar, de forma rápida, pastagens para suportar a indústria da carne. Para cada hambúrguer de carne bovina, são necessários 50 metros quadrados de área de floresta.

A poluição da água está directamente ligada à criação de animais para alimentação. Segundo um estudo de M. T. Santos; L. Amaral e F. Santana do Departamento de Engenharia Química/IPL/ISEL e do Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente/FCT/UNL, “os efluentes de suinicultura são altamente poluentes, pois contêm concentrações significativas de matéria orgânica e de macronutrientes (N+P), comprometendo seriamente a qualidade da água, do solo e do ar. A presença excessiva de nutrientes nos recursos hídricos é presentemente um problema pertinente, face aos efeitos nocivos originados, donde se destaca a eutrofização. Sendo assim, neste estudo procurou-se averiguar qual a influência de alguns parâmetros operacionais, como os períodos de arejamento e as cargas orgânicas aplicadas na remoção biológica de azoto de efluentes de suinicultura pré-tratados num primeiro estágio com digestão anaeróbia.”



Refere ainda o estudo que “as suiniculturas são, actualmente, a nível nacional, uma das maiores fontes de poluição das águas superficiais e subterrâneas. A pequena dimensão das propriedades, o clima quente e seco, a natureza dos solos, a grande aglomeração de explorações em determinadas regiões, aliadas à falta de informação dos produtores e dos projectistas, bem como, aos sistemas de produção adoptados, intensivos e sem tratamento, constituem, de forma inequívoca, os principais factores condicionantes dos graves problemas de poluição, que em algumas zonas do País atingem níveis alarmantes, principalmente, nos distritos de Leiria, Lisboa, Santarém e Setúbal.”

Apenas os animais criados para o consumo nos Estados Unidos produzem uma quantidade de dejectos 130 vezes maior do que a de toda a população mundial. Uma criação de porcos média produz tantos excrementos quanto uma cidade com 12 mil habitantes.

O desperdício de energia é também enorme. Novamente nos EUA, país bem representativo na área do consumo de carne, mais de um terço de todas as matérias-primas, e dos combustíveis fósseis, são usados na criação de animais para consumo humano. A produção de um único hambúrguer consome a mesma quantidade de combustível fóssil que um automóvel popular num percurso de 32 quilómetros.

Passando, por exemplo, à criação de frangos, a quantidade de grãos necessária à alimentação de milhares de milhões de aves em cativeiro, para consumo, é astronómica implicando à queima de áreas enormes de floresta destinadas ao seu cultivo, aumentando a escassez de água.

Até o consumo de peixe fica com algumas referências nesta área. Não falando do risco de extinção de algumas de muitas espécies, para ser conservado após a pesca, em sistemas de frio, são consumidas enormes quantidades de energia fóssil, poluindo ainda mais o ambiente.

Acredito que mais do que apenas falar, necessitamos de tomar atitudes e acções concretas na protecção do nosso meio ambiente, do nosso património comum. Não deixa de ser curioso observar uma família reciclar, com exemplar cuidado, uma garrafa de plástico e, em seguida, entrar num qualquer restaurante de “rodízio à brasileira”, ou de “comida rápida”, onde servem hambúrgueres de todos os tipos, e deliciarem-se com toda aquela carne.

Uma vez mais insisto que respeito as opções de cada um, mesmo dos que preferem continuar a comer carne. Percebo que se trata de uma decisão íntima, que cada um tomará, ou não, a seu tempo e de forma consciente.


Adoptar uma dieta vegetariana é, na minha opinião, uma forma simples de consumir alimentos sem agredir o meio ambiente, enquanto os hábitos alimentares com predominância de comida industrializada e rica em proteína animal contribuem directamente para um dos problemas ambientais que mais ameaçam o mundo: o aquecimento global.

Para Hélio Mattar, director do Instituto Akatu (http://www.akatu.org.br) que coordena a parte brasileira de pesquisa mundial promovida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), “não há nada que cada um de nós faça, que não se reflicta na vida dos outros. Por isso, a solidariedade é absolutamente necessária, inclusive por parte das empresas, que seriam mais agentes sociais e não apenas de produção”. As nossas escolhas de consumo influenciam muito. “Quando comemos um bife ou deixamos de pegar uma boleia, estamos a contribuir para aquecer o planeta“, acrescentou Mattar.


Segundo imagens recolhidas através de satélites, em 2004 e 2005, 1,2 milhão de hectares de floresta transformou-se em plantações de soja. Cada hectare tem mais ou menos o tamanho de um campo de futebol. Ou seja, em dois anos, a área cultivada por soja passou de um milhão de campos de futebol. Segundo Paulo Adário, da organização Greenpeace, a soja “está alimentando a vaca da Europa. A vaca da Europa é confinada e ela come soja brasileira.” Um porto especial em Santarém, no meio da floresta amazónica brasileira, foi construído para facilitar o transporte de milhões de toneladas do produto para o mercado europeu. A existência do porto da Cargill (http://www.cargill.com) está a ser contestada na justiça brasileira.


Ainda o Brasil, o país da floresta Amazónia, é também o maior exportador mundial e segundo maior consumidor de carne bovina. A criação de gado tem-se expandido por todas as regiões do país e a pecuária tem exigido a abertura de grandes extensões de campos onde antes existiam cerrados ou florestas. A criação de gado é, por isso, uma das principais responsáveis pelo desbravamento da floresta Amazónica.

Um artigo publicado no IEPEC Instituto de Estudos Pecuários do Brasil, da autoria de do cientista Gumercindo Loriano Franco, com o tema “Pecuária e a redução da Floresta Amazónica”, revela: “Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) o desmatamento na Amazónia Legal, entre Agosto de 2006 e Agosto de 2007, foi de 11.532 km2 (nos anos de 2002-2003 o desmatamento na região chegou a 23750 km2!). Com isso a região amazónica já perdeu aproximadamente 20% da área de floresta desde 1970 – 700 mil quilómetros quadrados foram derrubados. As pastagens ocupam cerca de 30% da superfície terrestre do planeta e a expansão dos pastos para a criação de animais domésticos é o principal factor do desmatamento actualmente.”

Segundo o relatório da FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação de 2006, com o tema “A grande sombra da pecuária” cerca de 70% das áreas anteriormente ocupadas por florestas na Amazónia são usadas hoje como pastagens e plantações de grãos destinadas a produção pecuária.


O relatório da FAO, continua Gumercindo Loriano Franco, “apontou que não somente as pastagens, mas os grãos utilizados nas rações de animais estão, a cada dia, ocupando locais onde antes havia grandes florestas. Entre os anos de 1994 e 2004 a área ocupada para o plantio de soja na América Latina praticamente dobrou, chegando a 39 milhões de hectares, com grandes áreas ocupadas pela monocultura. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a contribuição da Amazónia Legal para o rebanho brasileiro passou de 10% para 35% entre 1980 e 2008, respectivamente (…) Além disso, o desmatamento da Amazónia, devido à expansão da agropecuária, tem sido associado como contribuidor substancial para as emissões antrópicas globais de gás carbónico.”

“A viabilidade privada da pecuária”, continua o artigo, “não significa que ela seja desejável do ponto de vista social ou sustentável do ponto de vista ambiental. Os benefícios privados devem ser comparados com os custos ambientais e sociais decorrentes da expansão das actividades pecuárias e dos desmatamentos.”

Segundo o relatório do Banco Mundial “Causas do desmatamento da Amazónia brasileira”, do ponto de vista social, é “legítimo argumentar que os benefícios privados da pecuária de larga escala são distribuídos de forma excludente, pouco contribuindo para reduzir a desigualdade económica e social. (…) Do ponto de vista ambiental, não obstante as incertezas de mensuração, as parcas evidências disponíveis indicam que os custos dos desmatamentos podem ser significativos, superando inclusive os benefícios privados da pecuária, sobretudo quando se consideram as incertezas associadas às perdas irreversíveis de um património genético e ambiental pouco conhecido. Nesse sentido, actividades como o manejo florestal sustentável seria considerado superior do ponto de vista social e ambiental.”

Outro estudo do Banco Mundial, divulgado em 2003, indicava que, durante os anos 90, a pecuária de corte foi a maior responsável pelas desflorestações registadas nas terras, na época baratas, da região. O preço que a floresta paga com a desflorestação é elevado e não se perde só a madeira. Em cada quilómetro quadrado de floresta tropical há cerca de 45 mil toneladas de matéria orgânica, viva, na forma de animais, vegetais e microrganismos contra mil de um deserto. Alguns cálculos estimam que cada 2 milhões de hectares desmatados ou queimados, a área média derrubada anualmente na Amazónia, emitem o equivalente a 200 milhões de toneladas de carbono, mais do que todos os carros brasileiros juntos.

Essa queima constante faz com que preciosas nascentes de água desapareçam, já que não têm mais as árvores que funcionavam como esponjas para infiltrar a água da chuva até o lençol freático, para alimentar os lagos, lagoas e nascentes. Sem árvores, quando vem a chuva, muita terra, fezes e urina dos animais vão directamente para os rios assoreando-os e poluindo-os. Com a água poluída pelas fezes dos animais, juntamente com antibióticos e outros químicos, os custos de filtragem são mais elevados e, por isso, fica mais cara ao consumidor.

A criação do gado compacta o solo, tornando-o impermeabilizado, não permitindo que a água penetre para chegar até o lençol freático. Com a escassez, temos que ir buscá-la cada vez mais longe, aumentando os custos. À medida que a procura suplanta a oferta, os lençóis freáticos estão a diminuir em todos os continentes. Dezenas de países estão a enfrentar o mesmo problema. Para além de ser necessária água para todos os habitantes do planeta, é também necessária para a criação de animais destinados a servirem de alimento.

Vivemos num mundo em que a água se torna um desafio cada vez maior. A cada ano, mais 80 milhões de pessoas reclamam pelo seu direito aos recursos hídricos da Terra, outro bem comum. Infelizmente, quase todos os três mil milhões de habitantes que deverão ser adicionados à população mundial nos próximos cinquenta anos nascerão em países que já sofrem de escassez de água. Milhões de pessoas em muitos países sentem já os efeitos dessa para poderem satisfazer as suas necessidades mais básicas de higiene e produção de alimentos.

Segundo Demetrios Christofidis, professor de sistemas de irrigação e drenagem do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UnB – Universidade de Brasília, já em 2002, a agropecuária no Brasil respondia por uns incríveis 69% do volume de água retirado dos mananciais disponíveis. O abastecimento de água doméstico e a actividade industrial eram, na sequência, os segundos e terceiros maiores utilizadores, com 21% e 18%, respectivamente, de volume utilizado.

À medida que as pessoas ascendem na cadeia alimentar e passam a consumir mais carne bovina, suína, aves, ovos e lacticínios, consomem mais grãos, que serve de alimento aos animais. Uma dieta americana rica em produtos pecuários requer 800 quilos de grãos por pessoa por ano, enquanto as dietas na Índia, dominadas por uma alimentação básica de amidos como arroz, caracteristicamente necessitam apenas de 200 quilos. O consumo quatro vezes maior de grãos por pessoa significa igual crescimento no consumo de água. Na produção de grãos, gastam-se também enormes quantidades de água para a sua irrigação. Para termos uma ideia do absurdo de área florestal devastada pela agricultura destinada aos animais, se pegarmos 10% de toda a produção de grãos destinada aos animais, produzidos pelos EUA, poderíamos matar a fome de toda a população mundial.

Como existe muita pressão para serem produzidos alimentos mais rapidamente, os mesmos são alterados geneticamente, abusa-se dos químicos, contaminam-se rios, o solo, o ar e, ainda assim, não temos alimentos de qualidade, saudáveis. Se a humanidade não consumisse tanta carne, não era necessário desmatar tanto. Se usássemos apenas uma parte das áreas desmatadas, ganharíamos na economia das florestas e na qualidade dos produtos. Produziríamos alimentos com melhor sabor, de forma natural, livres de químicos e com o tempo de germinação e maturação adequado a cada espécie, sem queimarmos etapas de crescimento e produção.

O consumo consciente, cada vez mais recomendado como basilar na preservação dos recursos naturais, também passou a preconizar a adopção de hábitos alimentares mais ligados à terra dos que às indústrias. Recentemente, o Instituto Akatu (www.akatu.org.br), referência nesta área, divulgou uma reportagem sobre um estudo académico, feito nos Estados Unidos, a partir do qual se comprovou que os hábitos alimentares têm relação directa com a “saúde” do planeta. Segundo a pesquisa, adoptar uma dieta vegetariana é uma forma simples de consumir sem agredir o meio ambiente, enquanto hábitos alimentares com predominância de comida industrializada e rica em proteína animal contribuem directamente para um dos problemas ambientais que mais ameaçam o mundo: o aquecimento global.

Ainda segundo o mesmo trabalho, a produção, o armazenamento e a conservação de alimentos enlatados, embutidos e fast-food, todos com processamento industrial, é responsável por cerca de 20% da queima de combustíveis fósseis (derivados do petróleo) nos EUA. Assim, a dieta típica dos norte-americanos emite gases de efeito estufa em quantidade equivalente a um terço da emissão de todos os carros, motos e camiões do país. Também nesta pesquisa os transportes são apontados como o segundo maior causador do aquecimento global, ficando atrás das queimadas para pastagens.

Gidon Eshel e Pamela Martin, autores desse estudo, comparam as diferenças entre uma dieta vegetariana e outra composta por produtos industrializados, em relação à poluição originada pela sua produção, às mesmas existentes entre um carro de passeio e um todo-o-terreno utilitário. Os autores alertam que a capacidade de destruição do meio ambiente através de uma dieta como a dos norte-americanos é tão grande quanto à do sector dos transportes. Mas ressaltam que pequenas mudanças nos hábitos alimentares das pessoas podem ter um impacto positivo muito grande: “Se cada um que come dois hambúrgueres por semana cortasse essa quantidade pela metade, a diferença já seria substancial”, disse Eshel, professor assistente de ciências geofísicas, ao jornal da universidade.


As conclusões do estudo incluem a classificação de alguns tipos de dieta conforme a quantidade de gases de efeito estufa emitidos em todas as etapas da produção. Os resultados são algumas vezes surpreendentes: em primeiro lugar, como a que menos impacto traz para o equilíbrio climático da Terra, ficou a alimentação vegetariana, incluindo ovos e derivados de leite, especialmente a composta de alimentos orgânicos. Em seguida, vem a dieta com base em carne de aves. Em terceiro lugar, vem a alimentação industrializada típica dos norte-americanos. Na última colocação, em situação de empate, ficaram a carne de peixe e a carne vermelha.


A colocação dos peixes em último na lista é explicada pelo fato de que, em geral, a pesca e o congelamento de algumas espécies envolvem a utilização de combustíveis derivados de petróleo. Por incrível que pareça, os que afirmam comer peixe para poupar as florestas não sabem que essa prática é quase tão poluidora quanto queimar florestas, já que a conservação desse alimento requer muita energia. Necessitamos de transportar, armazenar e congelar o produto e isso produz muita poluição.

http://rumos.org/?p=177
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